Tuesday, November 4, 2008

Peru : Sociedad, cultura y educacion (1945-2003). (11 enero 2004)

Especial para RED DEMOCRÁTICA


PERU: SOCIEDADE, CULTURA E EDUCAÇÃO, 1945-2003.
Ensaio de Interpretação.


Enrique Amayo Zevallos, Ph.D.
Livre Docente
Professor de História Econômica e Estudos Internacionais
Latino - Americanos
Departamento de Economia e
Programa Especial de Pós - Graduação em Relações Internacionais "San Tiago Dantas"- São Paulo
Universidade Estadual Paulista - UNESP
E - mail: eazamayo@fclar.unesp.br

Caso de citar mencionar que este trabalho foi feito para o Seminário sobre o Peru do 20.11.03 organizado pelo Instituto de Pesquisas em Relações Internacionais – IPRI do Ministério de Relações Exteriores do Brasil e o Programa de Pós - Graduação "San Tiago Dantas" – UNESP – UNICAMP - PUC-SP e a publicar-se em 2004m como parte de um livro do IPRI dedicado aos países da Comunidade Andina - CAN.

Resumo. PERU: SOCIEDADE, CULTURA E EDUCAÇÃO, 1945-2003. Todas as sociedades sul-americanas têm peculiaridades e especificidades e no caso peruano, a peculiaridade é o peso da sua história. Sua especificidade: não é possível explicar a maioria dos assuntos de hoje sem levar em conta sua remota antiguidade. A destruição pelos espanhóis da Civilização Indígena no Peru, processo conhecido como Conquista (o conjunto da América Indígena, a partir do Século XV, foi destruído pelos europeus como parte da expansão e domínio do Ocidente sobre o mundo) é só uma etapa nova e diferente de um processo de construção histórico-social milenar. Esse contexto é essencial para entender a sociedade, cultura e educação peruanas no período em estudo.



Resumen. PERU: SOCIEDAD, CULTURA Y EDUCAÇÃO, 1945-2003. Todas y cada una de las sociedades sudamericanas tienen peculiaridades y especificidades. En el caso peruano su peculiaridad es el peso de su historia. Su especificidad: que es imposible explicar gran parte de los asuntos de su presente sin considerar su remota antigüedad. O sea que la destrucción de su Civilización Indígena, hecha por los españoles (América Indígena en su conjunto, desde fines del Siglo XV, fue destruida por los europeos como parte de la expansión y dominio de Occidente sobre el Mundo) y conocida como Conquista, es solo una etapa diferente y nueva dentro de un proceso de construcción histórico-social milenar. Este contexto es importante para entender la sociedad, cultura y educación peruanas en el período bajo estudio.



Abstract. PERU: SOCIETY, CULTURE AND EDUCATION, 1945-2003. Any South American society is peculiar and specific. In the Peruvian case, their historical burden is a peculiarity, and the specificity is that to understand most of today’s issues in that country we must take into account its ancient history. The destruction by the Spaniards of the Indigenous Civilization in Peru, a process known as The Conquest, is only a new and different stage of a historical and social building process lasting for thousands of years. From the 15th Century, the Europeans destroyed Indigenous America, as part of the worldwide process of Western expansion and control. We must know the context to understand the Peruvian society, culture and education in this period of time.

PERU: SOCIEDADE, CULTURA E EDUCAÇÃO, 1945-2003.

A revista Science publicou em 27 de abril de 2001 uma notícia impressionante informando que o aparecimento de vida urbana e de uma agricultura complexa no Novo Mundo ocorreu quase mil anos antes do que se tinha suposto até o momento .. Testes de carbono na antiga cidade de Caral, no Vale do Supe, Peru, a 23 quilômetros da costa, mostram que existiam construções de uma arquitetura monumental já em 2.627 AC...[1]


I. INTRODUÇÃO.
O Peru, com uma extensão de 1.285.216 kms2, é o terceiro país da América do Sul, sexto do Continente e 18o do Mundo. A geografia oficial peruana divide o país em três regiões naturais: Costa, Serra e Selva. A Selva, territorialmente a maior, corresponde à Amazônia peruana e está dividida em Selva Alta e Baixa (esta última limita com o Brasil). A Costa é plana e desértica e tem uma extensão de mais ou menos 150.000 kms2. A Serra, de aproximadamente 250.000 kms2, é atravessada de ponta a ponta pela Cordilheira dos Andes (formada por três cadeias de montanhas: Andes Ocidentais, Centrais e Orientais). Nos Andes Centrais, origina-se o Rio Amazonas. A população atual do Peru é de cerca de 28 milhões, quase 50% deles vivem na Costa, 38% na Serra e 12% na Selva.

Como todas as sociedades sul-americanas, o Peru tem suas peculiaridades e especificidades. Muito peculiar é o peso da sua história. Quanto ao específico: não se pode explicar a realidade peruana atual sem levar em conta sua remota antiguidade. A destruição pelos espanhóis da Civilização Indígena no Peru, processo conhecido como Conquista (o conjunto da América Indígena, a partir do Século XV, foi destruído pelos europeus como parte da expansão e domínio do Ocidente sobre o mundo) é apenas uma etapa nova e diferente de um processo de construção histórico-social milenar. Essa informação e o contexto a seguir são essenciais para entender a sociedade, cultura e educação peruanas no período em foco.


II. CONTEXTO.
O território que hoje corresponde ao Peru é um dos 7 primeiros centros em nível mundial onde ocorreu a maior revolução econômica produzida pela humanidade até hoje, a agrícola. No caso peruano, isso começou há 7000 ou 9000 anos.[2] Conforme a citação do início, foi também ali que ocorreu, de forma original, há quase 5 000 anos, a Revolução Urbana mais antiga do Novo Mundo que é talvez mais antiga que a da Europa.[3]


Sociedades como a peruana podem ser entendidas através de conceitos como os que Fernand Braudel desenvolveu. Referimo-nos ao seu conceito de Longa Duração, que enfatiza a análise das estruturas que persistem ao longo do tempo e explicam a construção dos inconscientes coletivos. Em outras palavras, no inconsciente coletivo ficam e sobrevivem, como continuidades, estruturas mentais cuja origem se encontra em sociedades e culturas que poderiam ter desaparecido no tempo. Isso forma parte do processo de construção dos espaços históricos e culturais característicos das civilizações. Assim se explica porque este ensaio é contra o tempo breve e a favor, nas palavras de Braudel, do tempo “de amplitude secular, ou seja... de longa, inclusive muito longa, duração.”[4]


O Estado complexo e altamente desenvolvido para a época (conhecido como Inca e que foi encontrado pelos espanhóis em 1532) foi dominado e conquistado. Sua população foi dizimada e transformados em servos os que sobreviveram.[5] O Estado Inca desenvolveu-se em termos econômicos graças à agricultura intensiva, porém era subdesenvolvido em termos militares. A técnica agrícola ali adotada, com uso intenso de adubo natural formado com excrementos de aves marinhas, conhecido como Guano, foi incorporada pela Europa e generalizada pelo mundo depois da década de 1830, sendo essencial para explicar o formidável progresso da agricultura capitalista mundial na segunda metade do Século XIX.[6] Para muitos investigadores, os produtos agrícolas dessa sociedade que foram incorporados à dieta européia explicam mudanças essenciais no mapa demográfico da Europa, criando ali realidades políticas e econômicas novas:
... não é exagero dizer que o rápido crescimento industrial da Alemanha é o maior monumento político gerado pelo impacto, na Europa, dos produtos alimentícios americanos... igualmente, o extraordinário crescimento do poder e da população da Rússia nos séculos XIX e XX tem a ver com a superioridade da batata... como alimento básico de uma sociedade em processo de industrialização... O aumento da população e a expansão da industrialização na Europa do norte, com seu resultante impacto na distribuição do poder a partir de 1750, simplesmente não poderia ter acontecido sem a alimentação gerada pela expansão da batata nos campos de cultivo. Nenhum outro produto americano desenvolveu papel tão decisivo no cenário mundial.[7]


Não só produtos agrícolas, como também metais preciosos, em quantidades inimagináveis na Europa antes da destruição da América Indígena, chegaram ao velho continente depois de 1492, formando uma das bases materiais da Revolução Industrial (a etapa conhecida como Acumulação Primitiva). Territórios que hoje conformam o Peru desenvolveram um papel de primeira grandeza neste processo. Vejamos a descrição de um economista inglês:

O período de grande expansão da Inglaterra começou definitivamente com a volta da primeira expedição importante de Drake ... em 1573 ....O valor do ouro e da prata trazidos no Golden Hind, o que na época se escondeu com muito cuidado, foi estimado de maneiras diferentes pelos historiadores, indo de 300.000 a 1.500.000 libras esterlinas. O professor W.R. Scott se inclina muito mais para as cifras mais altas e apresenta provas mostrando que deve passar de 600.000 libras esterlinas no mínimo. O efeito deste volumoso fluxo de dinheiro na formação dos “onze anos de grande prosperidade”, de 1575 a 1587, deve ter sido preponderante. É característico dos nossos historiadores, por exemplo em Cambridge Modern History, não fazer nenhuma menção a estes fatores econômicos como os que deram forma à Era Elizabetana e tornaram possível a grandiosidade de então... De fato, o resultado da pilhagem que Drake trouxe no Golden Hind pode muito bem ser considerado como a fonte e a origem do British Foreign Investment (Investimento Britânico no Exterior). Elizabeth usou estes ganhos para pagar o total da sua dívida externa e investiu parte do saldo (cerca de 42.000 libras esterlinas) na Levant Company (Companhia do Levante); em grande parte foram os lucros da Companhia do Levante que serviram para formar a Companhia das Índias Orientais, e os lucros desta última durante os séculos XVII e XVIII foram as principais bases das ligações da Inglaterra com o exterior; e assim por diante ... um boa amostra do que tem acontecido desde 1580, as 42.000 libras esterlinas da pilhagem de Drake em 1580 que Elizabeth investiu teriam se convertido, em 1930, no agregado real dos nossos investimentos exteriores atuais, ou seja, 4.200.000.000 – ou digamos 100.000 vezes maior do que o investimento inicial...[8]


Golden Hind era o nome do navio do pirata inglês Francis Drake e seus roubos foram feitos principalmente no Vice-Reinado peruano. A primeira reforma urbana de Lima no período colonial foi consequência de Drake já que, como proteção, na década de 1580, a cidade foi cercada por uma muralha. Simultaneamente construiu-se em seu porto, "El Callao", a maior fortaleza militar do Pacífico no período colonial: "El Real Felipe".[9]


Fica evidente que alguns territórios que hoje são do Peru, além de outros da América Indígena (atualmente partes do México, Brasil etc.) geraram bens que, incorporados pela Europa, ajudam a explicar o aparecimento das bases materiais da Modernidade e da Revolução Industrial.
Mas a América Indígena não foi importante só como produtora de bens materiais expropriados e acumulados pela Europa. Ela também produziu conceitos que acabaram gerando a crítica do Poder Absoluto dos Reis; essa crítica e seu desdobramento, a emergência da democracia, são elementos fundamentais da Modernidade. Aníbal Quijano[10] demonstra que não é por acaso que a Modernidade, como período histórico, aconteceu só depois da chegada dos Europeus na América. Em boa parte ela foi consequência do impacto que a América indígena, com seus padrões diferentes de desenvolvimento e organização, causou na Europa. Estas sociedades não conheciam o dinheiro nem o mercado, embora fossem complexas e muito desenvolvidas[11], adotando relações de solidariedade e reciprocidade. Isto evidenciou a existência de outras formas possíveis de organização social, além do absolutismo. A natureza deste trabalho não é para aprofundar aqui no tema, por isso apenas informamos do seguinte. A experiência indígena americana, especificamente a Inca, foi importante para a Europa pois lhe deu não só elementos materiais essenciais para sua transformação econômica, como também subsídios ideológicos que contribuíram para gerar novas idéias e conceitos sem os quais seria impossível pensar a modernidade e o consequente processo de democratização.


Essas sociedades indígenas estão longe de ser um assunto do passado. No Peru atual, quase 12 milhões falam Quechua, o idioma dos Incas[12] (um número maior do que os que falam, por exemplo, Sueco). Quase dois milhões falam Aymará (idioma da antiga Civilização Tiahuanaco, no lago Titicacaca, 400-1100 D.C.) ou seja, o equivalente a quase 70% dos que falam norueguês. Considerando todos os povos e culturas indígenas do Peru, cerca de metade da população desse país fala línguas indígenas. Se levarmos em conta o território histórico dos Incas, distribuído na atualidade entre o Peru, Equador, Bolívia, Argentina e Colômbia (nessa ordem de importância) os que falam Quechua são mais de 20 milhões (número maior que os que se expressam em línguas Escandinavas). Só os que falam Aymará, hoje na Bolívia, Peru e Chile, são mais ou menos 5 milhões (quase dois milhões a mais dos que falam norueguês).


Portanto, esses indígenas não são assunto do passado. E se em qualquer sociedade o passado é importante para explicar o presente, em sociedades como a peruana isto é vital. O que em outras latitudes poderia se considerar como passado, no Peru está presente e ativo, conformando o imaginário e a psicologia coletiva, ou também na forma física, material. Em todo o território se encontram os Índios, com suas culturas e comunidades, perfazendo quase a metade da população peruana, em cidades como o Cuzco, onde os velhos alicerces das suas construções contam outra história. Eles também estão em Lima, transformando a capital, como o retratou em sua obra o etnólogo e romancista José Maria Arguedas.


Muito importante também é a convicção, difundida entre estudiosos peruanos, de que esse passado e história podem gerar recursos para ajudar a resolver problemas de um presente difícil. O arqueólogo Walter Alva, encarregado de preservar o Senhor de Sipán,[13] é um deles. Em 1987, na Costa Norte do Peru, correspondente à Civilização Mochica (200-800 DC), descobriu-se a tumba não-saqueada mais rica do Novo Mundo, a do Senhor de Sipán. Dois anos depois, no mesmo local, encontrou-se outra tumba, ainda mais opulenta, a do Velho Senhor de Sipán.[14] Alva, convicto de que esse Senhor poderia ajudar a resolver alguns problemas econômicos dos descendentes dos Mochica, empenhou-se em construir um museu de importância internacional em Lambayeque, pequena e bela cidade perto das tumbas, a uns 20 quilômetros do Pacífico e a uns 800 quilômetros ao norte de Lima. O Museu, cujo desenho se inspirou nas típicas pirâmides Mochica (as “huacas”), tem espaços para pesquisa sobre plantas e animais típicos, técnicas agrícolas e artesanais, com o objetivo de recuperá-las. Ocupando uma área de aproximadamente 30.000 metros quadrados, o museu abriu suas portas ao público há pouco mais de um ano, com um edifício de três andares e mais de três mil metros quadrados ao ar livre para pesquisa.[15]
Exposições com réplicas do Senhor de Sipán (o original não pode sair do país) circulam pelos mais importantes museus do mundo, sobretudo dos Estados Unidos, Europa e Japão. Pode-se dizer que hoje o Senhor de Sipán é o principal embaixador peruano já que, após estas exposições, o Peru estabeleceu alguns convênios em muito boas condições com os países por onde o Senhor passou além, obviamente, de incrementar o fluxo de turistas rumo a suas terras. No próximo ano, o Brasil será o primeiro país da América Latina a ser percorrido por este Senhor, durante um período longo. [16] Isso é significativo, além do fato de o Presidente brasileiro Lula e o Presidente peruano Alejandro Toledo já terem visitado mutuamente seus países em duas oportunidades falando-se, no primeiro escalão de ambos os governos, do estabelecimento de relações estratégicas entre o Brasil e o Peru. Na atualidade as relações entre esses países são excelentes, talvez consequência de que parece haver empatia entre os dois presidentes, cujas origens se assemelham, com raízes nos setores sociais mais pobres do Brasil e do Peru. Sabe-se que Lula, quando criança, vendia laranjas e amendoim no Porto de Santos e que Toledo foi engraxate no Porto de Chimbote. Provavelmente são os únicos presidentes de nosso continente com essas características.


Que o principal Embaixador do Peru seja um venerável Senhor de quase 2000 anos reforça o que dissemos no início sobre as especificidades do Peru, um país onde o presente é quase inexplicável sem a busca das suas raízes remotas.


III. SOCIEDADE E CULTURA
José María Arguedas (1911-69), etnólogo e romancista peruano, estudou seu país como poucos o fizeram. Destacou-se de outros intelectuais do Peru por uma peculiaridade: o idioma em que cresceu e se criou não foi o espanhol e sim o Quechua[17]. Mesmo tendo nascido em uma família abastada de fazendeiros andinos latifundiários (no Peru de seu tempo chamados Olígarcas e, na Serra ou Andes, Gamonales) Arguedas foi deixado aos cuidados dos Índios da comunidade indígena pertencente à fazenda de seu pai. Além do Quéchua, prendeu a amar e respeitar a cultura dos que cuidaram dele. Aos 10 anos, seu pai se encarregou dele e o mandou à escola para se alfabetizar em espanhol. Como etnólogo[18] foi acadêmico nas principais instituições do Peru e foi convidado por universidades de muitos países. Como romancista[19], seu nome teria sido alguma vez mencionado para o Nobel. Este herói da cultura popular do Peru[20] sempre afirmou que o idioma do seu coração era um idioma não ocidental, o Quéchua. Talvez isso explique o fato de ele ser tratado e reconhecido como nacional também em países com significativa população indígena, como Bolívia, Chile, Equador, Guatemala, México etc.


Vejamos parte de um longo poema de Arguedas:

A Nuestro Padre Creador Tupac Amaru (hino-canção). Tupac Amaru, hijo del Dios Serpiente... Oyeme: ... hemos bajado a las ciudades de los señores. Desde allí te hablo.... Estoy en Lima, en el inmenso pueblo, cabeza de los falsos Wiracochas. Somos miles de millares, aqui, ahora. Estamos juntos; nos hemos congregado pueblo por pueblo, nombre por nombre, y estamos apretando a esta inmensa ciudad que nos odiaba, que nos despreciaba como a excremento de caballos. Hemos de convertirla en pueblo de hombres que entonen los himnos de las cuatro regiones de nuestro mundo, en ciudad feliz, dónde cada hombre trabaje, en inmenso pueblo que no odie y sea limpio...

Era para ser cantado ou recitado em voz alta, como una oração. No poema, os andinos ou serranos (chamados assim porque seu território de origem fica nas alturas andinas ou Serra) que estão transformando Lima (que fica na Costa, ao nível do mar) não romperam seu cordão umbilical, histórico ou até mesmo mítico, com o passado. Portanto, não existe contradição entre o passado e a construção do futuro, ao contrário. Arguedas colocou como eixo do seu poema o Inca revolucionário Túpac Amaru, que em 1781 lutou por reconstruir a sociedade justa do Tahuantinsuyo (Sociedade dos Quatro Suyos ou Regiões) abrindo caminho para as futuras rebeliões pela independência da América Latina. Por isso é chamado de Pai Criador, por ter iniciado o processo que daria origem a uma nova realidade histórica em nosso sub–continente, o que lhe custou a própria vida, a de sua esposa, filhos e de grande parte de sua família. No poema, este processo não termina pois os andinos continuam movimentando-se socialmente e invocando seu nome. O texto combina o passado com a realidade atual e fala em um Deus Serpente (Amaru em Quechua). É a grande cobra aquática ou o totem iniciador da linha real incaica. Historicamente Túpac, ao começar sua revolução, adotou o sobrenome Amaru. E Arguedas também recorre à idéia dos falsos wiracochas. Ainda hoje, poucas coisas são mais ofensivas na Serra que ser chamado de falso wiracocha (conquistador=explorador=mentiroso). Os espanhóis foram chamados assim porque, para conquistar o Tahuantinsuyo, mentiram fazendo-se passar pelos enviados de Wiracocha. No panteón Incaico, Wiracocha foi o deus branco que, em tempos passados dos próprios Incas, trouxe justiça e civilização ao Mundo Andino.

Segundo a crença, esse deus, ao considerar sua missão como terminada, construiu um barco com serpentes marinhas e navegou desaparecendo no Oceano Pacifico, prometendo voltar um dia. Séculos depois, os espanhóis, conhecedores do mito, se apresentaram aos Incas como sendo os brancos enviados por Wiracocha[21] para comunicar seu retorno e assim foram muito bem recebidos. Isso facilitou a conquista e os espanhóis se aproveitaram desse início pacifico de convivência para conhecer os Incas e preparar seus planos para atacá-los. Os Incas se surpreenderam quando os espanhóis, repentina e traiçoeiramente, atacaram, prenderam e depois assassinaram Atahualpa, o Imperador Inca, apesar de terem pago a Francisco Pizarro o fabuloso[22] resgate que ele exigiu para não matar Atahualpa. Assim se inicia um capítulo da história humana onde se cometeu um genocídio dos mais bárbaros, que foi a conquista do Mundo Andino. Descobriram então os Incas que os espanhóis eram falsos wiracochas, ou bestas insaciáveis com forma humana que só aplacavam sua fome comendo ouro.[23] Arguedas, em seu poema, coloca Lima, re-fundada pelos espanhóis em 1535 como centro de seu poder sobre o Mundo Andino, como a cabeça desses falsos wiracochas. É por isso que nela os índios atuam e se movem trabalhando, sistematicamente e com muita paciência, pela sua transformação num lugar para os seres humanos vindos das quatro regiões, numa cidade feliz onde todos possam, sendo saudáveis (limpos), trabalhar sem se odiar.


Esse hino esperançoso e utópico se nutre do passado para criar realidades novas, a Nova Lima, onde seria possível realizar a melhor possibilidade aberta pela modernidade, a democracia igualitária que aceita as diferenças, e que os andinos buscam sem renunciar ao seu passado.[24] No passado encontram elementos que os levam naturalmente a essa conquista, a mais alta da modernidade, o velho em função do novo. O poema traz a idéia de que se pode ser moderno sem perder a alma . Para Arguedas, o desafio da modernidade estava em ser ocidental sem deixar de ser andino (por extensão, africano etc)[25], o caminho para entrar sem complexos ou dependências na construção global da pós-modernidade.


A obra literária de Arguedas evidencia suas observações como etnólogo. Lima mudava rápido com a crescente presença das populações do interior, principalmente vindas da Serra. No início do séc. XVII, Lima tinha cerca de 15 mil habitantes; na República (1820s), uns 70 mil; em 1876, 102 mil; em 1920, quase 270 mil; em 1940, 645 mil; em 1961, 1.845.910; em 1972, 3.302.523; em 1981, 4.608.010. [26] Outra fonte dá 5.680.000 em 1985,[27] e ainda outra, 7.400.000 em 2000.[28] Não muitas cidades em todo o mundo mudaram tanto como Lima depois da Segunda Guerra Mundial. Arguedas sabia que nessa mudança era essencial a participação da população indígena. [29]


Porém, o caminho concebido por Arguedas (calmo e pacífico) infelizmente foi, anos após sua morte, enveredando por territórios de ódio e violência feitos com a tentativa de desacreditar e até destruir as frágeis instituições democráticas e o Estado peruano. Este processo culminou com o governo autoritário e anti – democrático de Alberto Fujimori (1990-2000) quem adotou, como conduta política, o oportunismo, o cinismo e o tirar vantagem, incentivando assim uma cultura de irresponsabilidade social que propiciou o aparecimento e a disseminação de atitudes quase anômicas.[30]


O principal iniciador da recuperação do indígena como componente essencial da sociedade e cultura peruana (ou seja de seu ser nacional que, por extensão, vale também para os países onde os indígenas têm um peso significativo) foi José Carlos Mariátegui. Sua obra, escrita principalmente na década de 1920, foi referência fundamental para Arguedas, para os peruanos de sua geração e posteriores. É difícil imaginar o Peru sem a obra de Mariátegui. Não é este o momento para falar deste pensador, provavelmente o peruano mais importante do século XX. Basta dizer que, e em relação ao ponto que estamos estudando, sua revista AMAUTA desenvolveu um papel de primeira ordem.[31] Embora sendo, em suas próprias palavras, um "marxista convicto e confesso", foi vítima do Stalinismo[32] e suas posições heterodoxas (por exemplo, não era ateu) influenciaram o que viria a ser a Teologia da Libertação.[33] A obra de Mariátegui também influiu em outros países.[34] O italiano Antonio Melis afirma que:
os Sete Ensaios de interpretação da realidade peruana já superaram faz tempo em conjunto os dois milhões de exemplares editados; foi traduzido para as principais línguas européias, além do chinês e japonês...[35]


Assim, de alguma maneira, o caminho desenhado por Mariátegui e por Arguedas influenciou os militares nacionalistas que deram um golpe de estado contra Fernando Belaúnde Terry em 1968 (v. Cronologia Política). Vejam-se os nomes dos projetos deste governo: Plano Tupac Amaru (1968-75) e Plano Inca (1975-1980). E o projeto de atuação cultural desse governo foi chamado de "Inca-Ri", palavra que junta os conceitos de "Inca" e "Rei". A partir dos anos 60, foi ficando evidente para um grupo de antropólogos e etnólogos estudiosos do Mundo Andino, [36] a existência de uma outra visão da história, a explicação indígena, transmitida oralmente e tendo a noção Inca-Ri como uma de suas principais expressões. Para essa visão, a conquista foi a confrontação de dois deuses: o do conquistador e o dos Incas. Este último, incorporado no último dos Reis Inca, foi morto à traição pelo garrote e depois decapitado. Seus restos, para impedir a reencarnação, foram enterrados pelos falsos wiracochas em dois locais muito distantes um do outro: o corpo em Cajamarca e a cabeça no Cuzco, mil quilômetros para o Sul. Mas, diz o mito, o Inca não morreu totalmente e seu corpo está crescendo, devagar mas sistematicamente, expandindo-se sob a terra, buscando sempre a sua cabeça. Quando as duas partes se encontrarem, Inca-Ri poderá reintegrar-se, SER UM e existir. Retornará a Terra trazendo um mundo novo parecido ao antigo mundo andino, sem fome, doenças ou exploração; com trabalho e felicidade para todos. O período de domínio do conquistador terminará.[37]


Este mito tem grande força e o próprio governo militar deu este nome a um de seus principais projetos culturais, ao mesmo tempo em que oficializava o Quéchua e o Aymará, passando o Peru a ter duas línguas nacionais[38]: o Espanhol e o Quéchua, com o Aymará como idioma regional.
O anterior fazia parte de grande projeto social chamado Sistema Nacional de Apoio à Mobilização Social - SINAMOS. Essa agência foi criada pelo general Velasco Alvarado para operar com distintos setores da população (indígenas, camponeses, operários, estudantes) a fim de obter sua "participação consciente no processo". A consciência se refletiria no fato de que não mais se aceitariam patrões ou amos (daí o nome SINAMOS ou "sem amos" em português). O grande objetivo de SINAMOS era obter o apoio participativo voluntário desses setores aos planos do governo. Intelectuais que assessoravam Velasco (entre eles o ex-guerrilheiro Béjar) teorizavam, polemizavam, e escreviam contra a noção de Partido Político afirmando que o regime não precisava do apoio de um partido mas sim de um movimento nacional e popular gerado pelo SINAMOS.


Ao mesmo tempo ocorriam grandes mudanças econômicas, como nunca se havia feito na história republicana do Peru, inclusive três grandes reformas: Agraria, Industrial e Mineira. Isso foi acompanhado por nacionalizações, que significaram expropriar interesses dos Estados Unidos por mais de 600 milhões de dólares, entre eles a que concentrava a ira popular, a International Petroleum Company, que serviu de base para a maior empresa peruana até hoje, “Petróleos del Perú – PETROPERU”. As reformas requeriam grandes investimentos, o que estava sendo feito quando aconteceu a crise mundial do petróleo de 1973. Formou-se um quadro de confrontação com Estados Unidos, o que ajuda a explicar em parte o fracasso do projeto reformista militar em seu conjunto.


Este fracasso também foi consequência da ideologia implícita nos planos militares. No fundo, SINAMOS procurava controlar e domesticar os movimentos populares, colocando-os a serviço do governo. A oficialização dos idiomas indígenas, por exemplo, praticamente não saiu do papel e o caminho indicado por Mariátegui e Arguedas tornou-se tortuoso no governo militar.
Das reformas militares, permaneceram alguns efeitos sociais. Eliminou-se o poder da classe dominante da época (Oligarquia), justificado em muito por sua origem no período colonial, seu maior orgulho.[39] Essa classe também se identificava com o Ocidente, negando sua história indígena. A oligarquia peruana se definia como branca, ocidental e cristã, a síndrome da brancura, encontrada também nas classes dominantes de outras partes da América Latina. O racismo, criado como fenômeno mundial a partir da conquista da América Indígena, ainda determina a realidade social no só do Peru e da América Latina mas do mundo.[40]
Fora do poder, a oligarquia peruana branca acabou dando passagem para que outros grupos não ocidentais nem brancos (índios, mulatos, chineses e japoneses[41]) chegassem ao governo. Mas a maneira distorcida como os militares eliminaram a oligarquia ajuda a explicar porque em muitos casos o pior destes grupos (grandes oportunistas políticos) finalmente chegaram ao poder.
O essencial, porém, foi a destruição física de muitos dos melhores membros desses grupos, feita principalmente por Sendero Luminoso. Não é este o lugar para entrar em detalhes sobre essa longa e silenciosa guerra civil, travada no Peru de 1980 a 1992. O fracasso das reformas militares frustrou as maiorias nacionais, especialmente os grupos que SINAMOS queria controlar. Isso explica em parte o aparecimento, a partir de 1980, de movimentos guerrilheiros como SL e o Movimento Revolucionário Tupac Amaru-MRTA. O estado peruano estabeleceu uma CVR em 2000, para investigar essa guerra, após a fuga de Alberto Fujimori ao Japão, em novembro. Seu Relatório, publicado em agosto de 2003, diz que nessa guerra morreram e desapareceram quase 70.000 pessoas. A maioria foi de responsabilidade, em primeiro lugar de SL, e depois, das Forças Armadas e Policiais e seus aliados, camponeses treinados e armados por eles (os chamados Ronderos).[42]


Para SL, primeiro, seus maiores inimigos eram os que mais se pareciam a ele, os partidos de esquerda não-senderistas. Segundo, sua estratégia de tomada do poder indicava como principais territórios de ação os de maior concentração camponesa, a Serra, habitada principalmente por população indígena. Terceiro: SL era um partido de organização vertical, não democrático, que para crescer precisava controlar, não convencer. Seu crescimento justificava tudo, inclusive formas extremas de violência e o uso do terror. As comunidades camponesas naturais destes territórios não entendiam as razões da luta de SL e se opunham a ele. Os camponeses indígenas não entendiam inclusive por não falar espanhol (esta sim língua nativa da maioria dos líderes de SL) e não aceitavam o controle de SL, que então os atacava. O exército organizou os ronderos, grupos armados para lutar contra SL. Assim muitas comunidades terminaram ficando entre dois fogos, pois SL as considerava colaboradoras do governo. E os militares, na maioria da Costa, falando espanhol e ignorantes das populações serranas e de seus idiomas indígenas, acabaram tratando praticamente todas as comunidades camponesas como colaboradoras de SL. Eis a raiz que poderia explicar porque mais de 60% dos mortos eram indígenas, muitos vinculados a partidos de esquerda e a movimentos populares não senderistas. Quase uma geração completa de dirigentes (políticos ou não) morreram na guerra; centenas de milhares de outros, devido à instabilidade e crise econômica gerada pela guerra, abandonaram suas terras e emigraram a Lima ou ao exterior.[43]


Nesse vácuo social (partidos políticos foram semi-destruídos mais que por SINAMOS, pela violência deslanchada especialmente por SL contra os da esquerda política) indivíduos como Fujimori, que criou um partido às pressas, puderam chegar ao poder. Além de inescrupuloso, AF foi habilidoso. Em 1990, contra seu rival nas eleições presidenciais, Mario Vargas Llosa, AF sutilmente se apresentou como o japonês que representava todos os marginalizados pela oligarquia. Falava de Vargas Llosa como o representante dos oligarcas, o que era facilitado pela reconhecida arrogância do romancista e as grandes somas de dinheiro usadas por VL na sua campanha.


Como alguém como Fujimori pôde governar o país por dois mandatos seguidos, num total de 10 anos? É certo que ele usou de todos os recursos, legais e ilegais, para tentar se perenizar no poder, mas ele também conseguiu se apresentar como o salvador do Estado. Nas palavras de Julio Cotler, um importante sociólogo peruano:
Fujimori ou Montesinos não foram apenas corrupção... representaram uma coalizão política dos poderes de fato que obteve o apoio geral da população ao conseguir derrotar a inflação e o terrorismo, possibilitando assim recuperar a presença do Estado no território e na sociedade.[44]

Mas Fujimori se explica também pelos apoios externos, como o que sistematicamente lhe deu o governo brasileiro de Fernando Henrique Cardoso; na Cronologia Política do final deste trabalho isto fica evidente.[45] Ali se mostra também que Montesinos, hoje na prisão, foi o principal colaborador de Fujimori, que herdou de Alan Garcia a hiperinflação que foi uma das piores da história mundial do século XX. Fujimori combateu a inflação com métodos ultra-néoliberais, o que parecia mostrar que em situações de grave perigo as populações aceitam quase qualquer remédio. Mas o problema apareceu quando o perigo passou e se quis continuar impondo o mesmo remédio. O autoritarismo de Fujimori pretendeu usar a legitimidade que a população lhe dera para continuar no poder quase indefinidamente. A mesma população que o legitimou mobilizou-se nas ruas para tira-lo do poder quando ficou evidente que se transformava num ditador, apesar do vácuo de poder que antes mencionamos. Isso também ajuda a entender o surgimento do atual presidente, Alejandro Toledo, personagem essencial na luta contra Fujimori que também organizou um partido as pressas, sem história nem representatividade.
Portanto, após o quase desaparecimento dos partidos políticos, o que restou (o antigo APRA) é um reflexo fragilizado do passado: hoje em dia os apristas formam provavelmente um terço do que foram em 1945. Na guerra, toda uma geração de futuros dirigentes foi perdida, principalmente de partidos e movimentos de esquerda não - senderista.


Os fatos até aqui mencionados devem ser levados em conta ao analisar a informação seguinte. O Peru tem uma renda per capita de US$2.080,00; no Brasil, a renda per capita é de US$3.580,00.[46] O Índice de Desenvolvimento Humano-IDH, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento-PNUD considera não só a renda per capita mas também os níveis de escolaridade e expectativa de vida, sendo portanto um indicador mais elucidativo. Em 2003, de um total de 173 países, o Peru ocupava a 82ª posição e Brasil, a 65ª.[47] O Índice GINI, um indicador do Banco Mundial-BIRD para medir a concentração de renda, varia de 0 a 1 (ou de 0 a 100) o que significa que, quanto mais próximo de 1 (ou de 100), maior a concentração de renda. O GINI de 2003 do Peru é de 47; de Brasil é de 58.[48] E segundo o relatório da ONG Repórteres Sem Fronteiras, com sede em Paris, relacionado com a liberdade de imprensa, o Peru ocupa o lugar 55º no mundo e o Brasil, o 71º.[49]


Dessa informação pode se deduzir que a situação social do Peru é critica mas corresponde aproximadamente aos países que estão em um nível de desenvolvimento médio.

IV. EDUCAÇÃO.

Em Lima, em 12 de maio de 1551, foi fundada a Universidade Maior de San Marcos, a mais antiga da América. Essa instituição, salvo no período em que a capital do Peru foi invadida por tropas chilenas, [50] jamais fechou suas portas. San Marcos, continuando o caminho mostrado pela sua matriz, a Universidade de Salamanca, desenvolveu igual papel aqui em nosso continente. Isto é, ela fundou um conjunto de universidades que são essenciais até hoje para América Latina, como as seguintes: a Universidade de Chuquisaca (na atual Bolívia, em 1552), de Córdoba (na atual Argentina, em 1609), de Santo Tomas de Aquino (em Bogotá, atual Colômbia, em 1619), de San Gregorio Magno (em Quito, 1621), de San Carlos (Guatemala 1687), de Santa Rosa de Lima (em Caracas, 1721) etc.[51]


Foi San Marcos a matriz dessas instituições que, como se sabe, desenvolveram papel determinante no desenvolvimento de uma consciência que se transformaria em nacional e se tornaria vital para os vários processos de independência. Em Lima também foi fundada a primeira imprensa da América do Sul e foi nessa cidade onde se publicaram, em 1584, os primeiros livros do nosso sub-continente.[52] Universidade e livros explicam que em Lima tenha nascido, por exemplo, no final do século XVIII, a Sociedade de amantes do País que com sua revista, El Mercurio Peruano, iniciou os estudos que, em termos atuais, se chamam de Realidade Nacional. Essas duas instituições estão entre as mais antigas do continente e nelas os professores da Universidade de San marcos foram figuras chave. Além de desenvolver papel importante na geração de uma consciência nacional, estas instituições possibilitaram a existência de um clima intelectual propício ao diálogo. Então por exemplo, quando o Barão Alexander Von Humboldt foi a Lima em 1802, chegou a um lugar onde tinha com quem dialogar para obter informações (como em outras partes da América que visitou). Isso ajuda a explicar como, em tão pouco tempo, conseguiu fazer tantos "descobrimentos" importantes, como por exemplo a Corrente marinha que leva seu nome. Na verdade, como já assinalaram autores como Mary Louise Pratt, Humboldt se apropriou e divulgou na Europa muitos conhecimentos que já existiam no Peru (e em outras paragens americanas).[53]


Assim San Marcos, durante séculos e até tempos relativamente recentes, foi uma instituição de avançada em nosso sub-continente. Já mencionamos seu papel nas pesquisas de Tello publicadas em 1919. Também em outros campos, até a década de 1950, continuou sendo uma instituição importante para o ensino e pesquisa. Nesses anos a medicina peruana dava contribuições originais à medicina universal com a chamada medicina de altura, linha de pesquisa desenvolvida por professores da Faculdade de Medicina de San Marcos. Eles queriam entender as transformações anatômicas dos indígenas dos Andes para adaptar-se às grandes altitudes, onde o oxigênio é escasso, e ali viver, produzir e reproduzir.[54] A medicina de altura foi a precursora da medicina espacial.


A partir do regime militar, não só San Marcos mas as universidades em seu conjunto começaram a perder muito. SINAMOS tentava controlar também o movimento estudantil. Isso politizou muito o ambiente já que universidades consideradas como não colaboradoras com o regime (e foi nas universidades, especialmente as públicas, onde surgiram as críticas ao governo) começaram a ter dificuldades para obter verbas. Deste modo as universidades foram se tornando território fértil para a prédica dos movimentos guerrilheiros, especialmente as universidades públicas do interior. A maioria dos líderes de Sendero Luminoso tinham sido professores de universidades do interior andino. Abimael Guzmán, o lider máximo de SL, foi professor de filosofia da Universidade de Ayacucho (fundada no Século XVIII quando essa cidade era importante para Espanha, devido às minas, que se esgotaram deixando Ayacucho com uma das periferias mais pobres do pais). Desde o governo militar as universidades foram crescentemente tratadas com critérios políticos, chegando ao cúmulo com Fujimori. Ele, que tinha sido Reitor da Universidade Nacional Agraria (onde Arguedas trabalhou e se suicidou), mandou o exército invadir as universidades com o pretexto de Sendero. Depois de invadir a Universidade de San Marcos, expulsou o Reitor democraticamente eleito, um dos melhores historiadores, empossando um outro sem qualificações acadêmicas. O sistema universitário, especialmente público, foi se degradando enquanto se incentivava o ensino privado, muito caro, para as novas elites.


Nesse quadro, é possível entender informações como as seguintes. Os gastos com Ciência e Tecnologia em relação ao Produto Interno Bruto do Peru em 2001 foram de 0,10%.[55] No Brasil, no mesmo ano, foi de 1.00% (dez vezes maior). [56] No Peru, em 1993, a porcentagem da população com mais de 15 anos sem educação formal era de 12,3%; com educação primária, 31,5%; secundária, 35,5%; superior, 20,4%. Alfabetização (1995) - total da população de mais de 15 anos alfabetizada, 88,0%; homens, 93,5%; mulheres, 82,7%.
Brasil 1993. Porcentagem da população com mais de 25 anos: sem educação formal, 34,7%; com educação primária, 44,1%; com alguma educação secundária, 19,8%; pós-secundária, 1,4%. Alfabetização (2000): população total maior de 15 anos alfabetizada, 77,2%; homens, 74,4%; mulheres, 79,8%.[57]


Pode-se deduzir, portanto, que o Peru atual, em termos de pesquisa, está muito mal quando se compara por exemplo com Brasil. Mas está melhor em termos de ensino básico. Portanto, no terreno educacional, tanto o Peru como o Brasil, em níveis diferentes, têm muito por fazer.


V. A MODO DE CONCLUSÃO.

Tentamos mostrar neste trabalho como o peso da história constitui a peculiaridade e a especificidade do Peru e que sem conhecimentos do passado não podemos explicar o país de hoje. Como último exemplo bastante ilustrativo, a antiga canção andina El Condor Passa, tocada com instrumentos milenares, continua sendo uma das mais populares também hoje. Na década do 60, os anos da Revolução Cultural que culminaram em 1968,[58] El Condor Passa transformou-se quase em hino dos hippies, figuras essenciais dessa etapa. Mais uma vez vimos o velho adequando-se ao recente, novamente a atualização dos recursos culturais extraordinários do Peru, reafirmando que a história pode ser uma arma.

PERU - Cronologia Política 1945-2000

- 1945: Encerra seu mandato o Presidente Manuel Prado Ugarteche (1939-45); toma posse o novo Presidente José Luis Bustamante y Rivero (eleito para o período 1945-51).[59]
- 1948: Golpe Militar. O ditador Manuel Odría exerce o poder por 8 anos (“El Ochenio”, 1948-56).
- 1948: José Luis Bustamante y Rivero é eleito Presidente da Corte Internacional de Justiça de Haia.
- 1956: Eleito Presidente da República Manuel Prado Ugarteche (período 1956-62).
- 1959: A Frente da Esquerda Revolucionária (FIR) do trotskista Hugo Blanco começa a organizar os Sindicatos Camponeses (então, proibidos por lei).
- 1961: O Embaixador peruano na ONU Víctor Andrés Belaúnde é eleito Presidente da Assembléia Geral da ONU.
- 1962: Golpe Militar para evitar o triunfo nas eleições de Víctor Raúl Haya de la Torre (VRHT), líder da Aliança Popular Revolucionária Americana (APRA, criada em 1924). Junta Militar presidida pelo General Manuel Pérez Godoy, removido depois pelo ditador Nicolás Lindley.
- 1962: Movimentos guerrilheiros adeptos da Revolução Cubana (Movimento de Esquerda Revolucionária MIR, de Luis de la Puente e Exército de Libertação Nacional ELN, de Guillermo Lobatón e Héctor Béjar) começam a luta armada pela Reforma Agrária, Nacionalização de Recursos Estratégicos e Política Exterior independente (relações com todos, inclusive com a URSS, República Popular da China, Cuba etc.).
- 1963: Posse de Fernando Belaúnde Terry (FBT) da Ação Popular (AP): período 1963-69. Com as Forças Armadas (FFAA), reprime o MIR e o ELN atacando também a FIR; defesa armada desta última.
- 1965: As FFAA derrotam os movimentos guerrilheiros e a defesa armada dos sindicatos camponeses da FIR; os líderes sobreviventes Hugo Blanco e Héctor Béjar são levados a tribunais militares que pedem pena de morte para ambos.
- 1968: FBT, com a oposição da maioria dos partidos políticos e da sociedade civil organizada, prorroga por mais 80 anos a exploração do petróleo peruano (então exportador) pela empresa monopolista International Petoleum Company - IPC (filial da ESSO, hoje EXXON). As FFAA dão golpe de estado justificado pela não aceitação dessa decisão de FBT.
- 1968-1975: “Primeira Etapa: Plano Túpac Amaru”: Governo da Junta Militar presidida pelo General Juan Velazco Alvarado (JVA). Nacionalização do petróleo e dos recursos estratégicos, Reforma Agrária “para eliminar a oligarquia e entregar a terra aos camponeses”, estabelecimento de relações com todos os países do mundo. Javier Pérez de Cuéllar (JPC): primeiro embaixador do Peru na URSS. Libertação de presos políticos (Héctor Béjar se torna Assesssor de JVA).
- 1973: Crise mundial do petróleo. O Peru, produtor de petróleo desde 1873 e exportador desde fins do século XIX, na década de 1970 vira importador e o aumento dos preços do petróleo terá efeitos drásticos gerando crise e instabilidade.
- 1975-80: “Segunda Etapa: Plano Inca”. JVA removido do poder. Governo da Junta Militar presidido pelo General Francisco Morales Bermúdez (FMB). Em meio à crise crescente, negocia-se com os partidos políticos: retorno pacífico aos quartéis em troca de eleições primeiro, para eleger uma Assembléia Constituinte (AC, encarregada de redigir uma Nova Constituição - NC); segundo: com a NC, eleições gerais.
- 1978: AC eleita. VRHT eleito Presidente da AC. O Deputado mais votado da AC é Hugo Blanco. Estabelecido o período presidencial de 05 (cinco) anos sem re-eleição imediata.
- 1980: FBT é eleito Presidente pela segunda vez (1980-85).
- 1980 Maio: Sendero Luminoso (SL), partido de orientação maoísta do líder Abimael Guzmán (“Presidente Gonzalo”), inicia sua luta armada.
- 1982: JPC é eleito Secretario Geral da ONU (1982-90).
- 1985: Alan García Pérez (AGP) do APRA é eleito Presidente da República (1985-90).
- 1986: O Movimento Revolucionário “Túpac Amaru” (MRTA) do ex-líder da juventude do APRA Augusto Polay dá início à sua luta armada.
- 1987: Nacionalização dos Bancos. Crise interna e internacional geram uma inflação de mais de um milhão por ano (uma das piores da história mundial do Século XX).
- 1987: JPC recebe o Prêmio Nobel da Paz outorgado as Forças da Paz da ONU.
- 1990: Eleito Presidente Alberto Fujimori (AF) do "Movimento Independente Cambio 90" (1990-95). AF ganha com um programa contra o néo-liberalismo oposto ao do candidato derrotado, o romancista Mario Vargas Llosa. Mas no seu primeiro dia no poder, AF inicia um dos programas mais neo-liberais da história da América Latina, com a liberação de todos os preços.
- 1992. Auto–golpe. AF, sob o pretexto de mais poderes para combater com êxito a Guerra Interna (principalmente contra SL mas também contra o MRTA) fecha o Congresso Nacional - CN e restringe o Poder Judiciário. Em setembro, o comando especial do General da Polícia Nacional (PN) Kettin Vidal captura a cúpula de SL, iniciando o processo que levará essa guerra ao fim.[60]
- 1993: AF organiza eleições para um CN unicameral (elimina a Câmara de Senadores); os eleitos seriam chamados Congressistas. Consegue maioria absoluta no CN (mais de 66%) e reforma a Constituição estabelecendo a possibilidade de re-eleição imediata para um segundo período. Como a reforma foi estabelecida no meio do primeiro mandato de AF ficou aberta a possibilidade para que o Congresso Nacional (CN) interpretasse que esse período não entrava na contabilidade.[61]
- 1995: fevereiro. Problemas não resolvidos do Peru com o Equador, gerados nos anos 1820s, durante suas independências, novamente se transformam numa quase-guerra. AF usa a guerra e o nacionalismo na sua campanha para reeleger-se esse ano. O outro candidato, JPC, os partidos de oposição, organizações da sociedade civil e acadêmicos influentes mostrariam que o resultado final dessas eleições, que permitiu a AF continuar no poder, era resultado de fraude.
- 1995: 28/07. AF empossado como Presidente graças a sua maioria no CN.
- 1996: 19/12: Comando do MRTA captura a Embaixada do Japão, onde estavam mais de 500 convidados comemorando o aniversário do Imperador do Japão. O MRTA faz mais de 50 reféns e tenta negociar a liberdade de seu líder Polay e outros presos deste movimento. AF aceita negociar, mas coloca sempre novos empecilhos que a prolongam indefinidamente.
- 1997: 23/04: Comandos especiais das FFAA invadem a Embaixada do Japão, matam os 15 membros do MRTA e um dos reféns. O restante é libertado. Organizações de defesa dos direitos humanos suspeitam que ao menos 3 do MRTA foram capturados vivos e mortos de imediato com uma bala na nuca já que a ordem secreta de AF (Comandante Supremo das FFAA peruanas) teria sido "ninguém do MRTA sai vivo".
- 2000: 09/04. AF é candidato por terceira vez (segunda, conforme sua maioria no CN). Eleições para Presidente e para renovar o CN. Nenhum candidato obtém maioria absoluta e AF e o segundo mais votado, Alejandro Toledo (AT) do partido "Peru Posible -PP", passam ao segundo turno. AT denuncia os resultados como fraudulentos: se nega a participar na segunda votação; o Governo Clinton mostra insatisfação com a condução do processo eleitoral; AF perde sua maioria absoluta no CN.
- 2000: 28/05. Segundo turno: seus resultados não são reconhecidos pela oposição. As principais testemunhas da eleição, presentes em consequência das lutas da oposição (observadores da OEA, Instituto Carter e Transparência Internacional), em seus relatórios qualificam os resultados como "viciados". O Governo Clinton dá indícios de que poderia aceitar a posição dos observadores da OEA.
- 2000: 26/06. Na reunião da OEA em Quebec, Canadá, em nome da estabilidade se reconhece como legítimo o resultado das eleições. O Governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) logrou esse reconhecimento obtendo os votos da Argentina (Menem era Presidente), do Chile (Lagos), México (Fox), Venezuela (Chávez) e da maioria dos países latino-americanos. O Governo Clinton criticou mas votou pelo reconhecimento. .
- 2000: Junho-Julho: A sociedade civil organizada, partidos de oposição e especialmente AT tentam evitar a posse de AF lançando a movimentação nacional chamada "Dos Quatro Suyos" ("Suyo", em Quechua significa "região"; o nome da sociedade dos Incas em seu idioma é "Tahuantinsuyo" ou seja, "A Sociedade das Quatro Regiões") da qual participam centenas de milhares de pessoas.
- 2000: 05/07. O Itamaraty condecora com a "Ordem do Cruzeiro do Sul" 3 Ministros e também os Chefes do Exército, Marinha e Aviação peruanos; em 28/05, data do segundo turno das eleições, o Itamaraty já tinha outorgado a mesma honraria a outros 3 ministros de AF.[62]
- 2000: 28/07: Posse por terceira vez de AF em meio a imensas movimentações contrárias. Em situação estranha, morrem queimados 5 populares quando, segundo o Serviço de Inteligência Nacional (SIN), tentavam incendiar um prédio público. O Governo acusa a oposição e especialmente AT como responsáveis.
- 2000: 06/09. A oposição denuncia a existência de um avião com 10,000 fuzis comprados da Jordânia com destino final: as Forças Armadas da Colômbia - FARC. O comprador é Vladimiro Montesinos (VM), assessor número um de AF e responsável pelo SIN.
- 2000: 13/09. O líder do partido de oposição Frente Independente Moralizador (FIM) Fernando Olivera mostra um vídeo com VM entregando quinze mil dólares ao Congressista Alberto Kouri para que deixasse a oposição; ficou evidente o método de AF para obter maioria absoluta: crescentemente perde legitimidade.
- 2000: 16/09. AF, em discurso à nação pela TV, convoca novas eleições para Presidente e CN, anunciando que não seria candidato e que o SIN seria eliminado. Não estabelece um calendário eleitoral.
- 2000: 26/09. VM foge e chega ao Panamá. FHC, invocando a estabilidade regional, pede à Presidenta do Panamá Mireya Moscoso que conceda asilo a VM. O asilo não é concedido e VM volta clandestinamente ao Peru, onde passa uns dias até sair de novo e desaparecer.
- 2000: 10/11. Martha Hildebrandt, do Partido de AF e Presidenta do CN, sofre um voto de censura no CN e é obrigada a deixar o cargo.
- 2000: 19/11. AF desde Tóquio renuncia à Presidência via fax; retornando de Brunei, onde como Presidente de um país do Pacífico tinha assistido ao "Foro de Cooperação Ásia-Pacífico", fizera uma escala em Tóquio. O Japão reconhece sua cidadania japonesa e conforme suas leis, seus cidadãos não podem ser extraditados.
- 2000: 20/11. O CN não aceita a renúncia de AF e retira seus poderes por "incapacidade moral".
- 2000: 22/11. O Presidente do CN Valentin Paniagua (VP) é eleito pelo CN como Presidente da República da Transição Democrática: terá que organizar novas eleições. Nomeado Primeiro Ministro (o colaborador mais importante de VP), JPC. O General Kettin Vidal, que depois de capturar a cúpula de SL tinha sido afastado do SIN por VM e aposentado ilegalmente por AF, é nomeado Ministro do Interior: terá que reorganizar a polícia para capturar AF e VM e para este fim solicita-se a colaboração da INTERPOL. Nomeada a Comissão, dependente do Primeiro Ministro, para obter a extradição de AF: consegue uma ordem internacional de captura o que significa que AF não pode sair do Japão. Nomeada a CVR para investigar a Guerra Interna.
- 2001: 08/04. Eleições para Presidente e para CN. AT do partido PP, que liderou a movimentação contra AF, não consegue maioria absoluta e tem que disputar o segundo turno com Alan García Pérez da APRA; nenhum partido consegue maioria no CN.
- 2001: 03/06. AT eleito Presidente com 53% dos votos; AGP obtém 47%.
- 2001: 23/06. O FBI descobre que VM tenta obter acesso a uma conta com dezenas de milhões de dólares em Miami; alertada a polícia peruana, descobre-se que VM mora em Caracas provavelmente protegido pelo Presidente Chávez. Com sucesso inicial, a polícia peruana monta uma operação secreta de captura de VM em Caracas mas os serviços de inteligência venezuelanos, a descobrem. A operação termina com a captura e entrega ao Peru de VM, porém gera quase a ruptura de relações entre o Peru e a Venezuela. No Peru, VM confronta centenas de acusações: contas secretas que vão de 500 milhões a 1 bilhão de dólares, lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e armamentos, fuzilamento de reféns, organização de esquadrões da morte, corrupção, tortura, fraude, extorsão, assassinato (5 populares teriam sido queimados pelo SIN) e chantagem (através da gravação de centenas de vídeos - conhecidos como "vladivídeos" – que colocavam as vítimas em situação comprometedora). Nos tribunais, VM sugeriu que ele sempre dependeu de AF.
- 2001: 28/07. AT toma posse. O Presidente FHC e a maioria dos Presidentes da América do Sul assistem à cerimônia de posse e a imprensa destaca a frieza das relações entre FHC e AT. De julho de 2001 a dezembro de 2002, nenhum desses Presidentes visitará o país do outro.
- 2002: AT, por promessas não realizadas, chega ao fim de 2002 com uma popularidade baixa: perto de 12%.
- 2003: 01/01. O Presidente Lula toma posse e entre os assistentes da cerimônia de posse está AT. Desde janeiro até hoje os dois Presidentes visitaram mutuamente seus países em duas oportunidades. A imprensa fala da existência de importantes interesses comuns e do estabelecimento de relações estratégicas entre o Brasil e o Peru. O Peru foi convidado pelo Brasil para participar do MERCOSUL.
- 2003: setembro. AT, na Assembléia anual da ONU, solicita apoio internacional para obter a extradição de AF do Japão.

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